Hoje em dia o Carnaval é uma festividade que me passa um pouco ao lado. Não o é totalmente porque tenho filhos, e esses participam em desfiles escolares devidamente empalhaçados, ou deveria antes dizer aperaltados? Digo isto porque as escolas escolhem os temas, por vezes nada fáceis, e é ver os pais ou em 90% dos casos as mães numa correria desenfreada à procura de fatos e apetrechos que correspondam a esse mesmo tema. No caso da S., a escolinha onde anda encarrega-se de arranjar o fato (surpresa para os pais) e nós apenas contribuimos monetáriamente, o que se torna um alívio devo acrescentar.
Já na escola do T., o tema é a republica que se estendeu também à monarquia, e na turma dele calhou D. Afonso Henrique para os meninos e D. Urraca para as meninas, por isso vá de arranjar capas, espadas, escudos, capacetes e afins.
No meu tempo de menina, cada um vestia-se do que quisesse, ou melhor do que conseguisse arranjar. Melhor dizendo, enfiávamo-nos dias inteiros nos sotãos das nossas avós, a explorar enormes baús de roupa antiga (velha), a vestir e a despir, sobrepor roupa, lenços nas cabeças, chapéus e todos os tesouros que conseguíssemos arranjar.
E fazíamos as nossas máscaras para a cara, as caraças como lhe chamávamos na altura, recortávamos bocas e olhos num bocado de papelão, que pintávamos em seguida com muito cuidado.
E nos dias seguintes juntávamo-nos em bandos de miúdos quase irreconheciveis a calcorrear as ruas, de porta em porta a pedirmos qualquer coisa que nos quisessem dar.
Não tenho nada contra o progresso, não tenho nada contra as máscaras bonitinhas que se vendem por esses hipermercados fora, mas tenho saudades do tempo em que os miudos tinham de usar a sua criatividade e imaginação para poderem gozar a sério o Carnaval.