quinta-feira, 31 de março de 2011

Ser mãe

Ser mãe começa um pouco antes de termos filhos. Começa quando os planeamos. Nessa altura, principalmente enquanto tentamos engravidar, vamos reparando em todos os rebentozinhos que se cruzam connosco, e ansiamos que a cegonha traga o nosso. Perfeitinho, lindo de morrer, bonzinho, tipo bebé Nestlé. Vamos observando também as criancinhas mais velhas, vamos apontando mentalmente os defeitos que lhes vemos, nomeadamente as birras, as más criadices, as desobediências, e projectamos na nossa (futura criança) uma educação exímia que vai fazer com que os NOSSOS filhos fujam à regra, e venham portanto a ser crianças exemplares.

Vemos sobrinhos, filhos de amigos, etc, a recusar comer a sopa ou os legumes e preparamo-nos para uma conduta diferente porque vamos concerteza conseguir transmitir aos nossos filhos o quão importante é ter uma alimentação saudável, e eles, obedientes como serão, vão comer a alface até à ultima folha.

Vemos pais com um filho no supermercado a fazer uma birra descomunal porque quer qualquer coisa que não era suposto ter, que das duas uma: ou cedem para ele se calar, ou ralham e eventualmente batem quando a coisa está a ultrapassar todos os limites. Para nós, nenhuma das duas soluções está correcta. Quando nós tivermos filhos vamos instruí-los devidamente, eles vão perceber atempadamente que não podem ter tudo o que lhes der na real gana, vão aceitar que um NÃO dito pelos pais e decididamente não vão fazer este tipo de birras.

Aos nossos filhos não irá haver necessidade de ralhar constantemente, o tom de voz para com eles não irá ser elevado porque, como toda a gente sabe eles seguem o exemplo dos pais e se estes não berrarem e gritarem eles também não o irão fazer. Por isso, quando houver necessidade de os chamar à razão iremos ter uma conversa calma, fazê-los ver que procederam mal e porquê. E eles vão compreender.
Iremos cultivá-los culturalmente. Iremos a espectáculos eruditos para crianças, concertos para bebés, ópera para crianças, teatros, iremos iniciá-los cedo na música, inclusivé vamos pôr CDs de música adequada para eles ouvirem enquanto estão na barriga, porque assim irão nascer com uma sensibilidade para a arte, mais apurada.
Os nossos filhos irão integrar desde cedo em diversas actividades. Natação, música, ballet, futebol, ginástica...
Irão iniciar também um idioma estrangeiro logo que possível, inglês em príncipio, porque é importantíssimo que dominem bem a língua.

Vão ter sempre roupa gira e sapatos a combinar com o vestuário.

Não vamos tirar objectos decorativos do alcance deles porque se eles se habituarem a que eles lá estejam, não lhes vão mexer.


As férias irão ser a cereja em cima do bolo, quando formos para a praia, nos estendermos na toalha com um livro ao lado enquanto observamos as nossas crianças sossegadas na areia a fazer lindos castelos, quais criaturas mais lindas e amorosas!
Na escola vão ser aplicados, vai ser uma maravilha acompanhá-los nos trabalhos de casa, no estudo para os testes, eles vão de certeza seguir os nossos conselhos e serão alunos brilhantes.

E isto é uma utopia, como é evidente.

Porque os nossos filhos nascem, choram e dão-nos más noites. Só querem colo. Quando começam a comer, cospem a sopa toda. Fazem birras iguais ou piores do que os outros. Fazem-nos transpirar nos restaurantes. Mandam coisas ao chão. Comem as velas que decoram a mesinha da sala. Vomitam os sofás. Partem a jarra de cristal que alguém nos ofereceu no casamento. Fazem cocó atrás do cortinado após os termos obrigado a sentar no bacio durante meia hora sem resultado.

Os nossos filhos tiram macacos do nariz. Empurram outras crianças. Não querem comer verduras. Fazem mais birras. São teimosos como uma porta. Vêm para a nossa cama durante a noite. São chatos. Não obedecem. Argumentam. Não aceitam um não. Não podem ir para a natação porque têm otites. Gritamos com eles. Eles gritam connosco. Esquivam-se até ao último minuto de fazer os trabalhos de casa. As férias são desastrosas e deixam-nos a cabeça feita em água. Desarrumam tudo. Não querem arrumar nada. Ralhamos mais.

A certa altura apercebemo-nos que andamos sempre a ralhar. Não era isto que queríamos. Mas é isto que acontece.


As duas versões são extremistas mas concerteza que todas nós já passámos por algumas destas situações.

Não existem mães perfeitas.

Não existem filhos perfeitos.

2 comentários:

Alma Ni disse...

Lindo este post!tão verdadeiro, que consegui lê-lo até ao fim a rever-me nas tuas palavras.

pi disse...

Tantas vezes q já pensei nisso. E se tive o 1º filho q era um bocadinho como a 1ª parte do teu post, tenho agora uma 2ª q é exatamente a 2ª parte do post. Mas nunca devemos falar dos outros, pois como diz a minha mãe: "pela boca morre o peixe e padecem as pessoas". temos de nos abituar áquilo q temos.

Bjs