sábado, 25 de julho de 2009

Doutores vs incultos

Ao ler um post no blogue "O Sofá Vermelho" sobre a importância dos canudos revi-me em algumas situações lá mencionadas. Apeteceu-me escrever sobre o mesmo assunto. Eu também não fui para a universidade, terminei o 12º ano e fiquei por aí.
Acho eu que para a maioria das pessoas (espero eu ) já não existem barreiras sociais tão acentuadas pelo facto de se ter um Dr. ou não. No tempo dos meus avós sim, os doutores eram vistos com outros olhos, eram pessoas distintas e faziam-se valer da sua formação porque eram uma minoria, e o resto da população era práticamente analfabeta. Hoje em dia significa que podem ter um emprego melhor, com salários mais elevados (às vezes), mas em relação à cultura ou educação dos não formados já não existe tanta diferença.
No entanto é com tristeza, e posso acrescentar, até com alguma pena, que por vezes nos deparamos com a arrogância de alguns "doutores" que até podem não estar a exercer a sua profissão e no entanto fazem questão de se afirmar sobre quem não tem curso.
Passo a citar algumas situações que já se passaram comigo:
- Há poucos anos tinha o meu filho 1 ano e pouco, estava eu em conversa com uma colega (que é doutora) a contar qualquer coisa de que agora já nem me lembro que o miúdo tinha dito e devia ser uma coisa inteligente porque provocou o seguinte comentário da minha colega: " veja lá, isso até é de estranhar sendo filho de pais não formados". Fiquei abananada, a pensar no significado do que ela tinha dito. Interpretei da seguinte forma - se os pais do meu filho não andaram na universidade ele não tem direito a ser inteligente. Mas sendo a minha colega filha de pais não formados, será que é inteligente?
-O meu marido há uns anos atrás também passou por uma situação caricata:
Tinha terminado a escola e teve um emprego durante algum tempo numa loja de electrodomésticos. Um dia foi entregar uma máquina de lavar a um casal da sua idade cujo marido era conhecido dele. No fim de fazer a montagem e explicar o funcionamento da máquina a cliente perguntou-lhe (tratando-o por tu) a quem devia endossar o cheque. Ele respondeu-lhe, tratando-a também por tu. Então ela fez-lhe o reparo "não me trates por tu" deixando o meu marido perplexo. O marido dela justificou-a dizendo " é que a minha esposa é doutora". Toma e embrulha.
-Há uns tempos atrás no meu local de trabalho apareceu um casal com um caniche que passo a descrever: Ele com um Blaser azul escuro coçado, camisa aos quadrados, lenço às cornucópias, barbicha e cabelo muito penteado para o lado com brilhantina, ela com um aspecto muito estranho, salvando-se o caniche com um aspecto de cão relativamente normal. Após o atendimento começei a fazer a ficha de cliente. Nome: Dr. XXXXX advogado. Como no meu trabalho não sou selectiva, até porque se tratava de uma venda comum, e as minhas fichas de cliente não têm lugar para DRs, só para nomes próprios, eu suprimi-lhe o estatuto.
No entanto quando a venda a dinheiro chegou às mãos do proprietário foi devolvida para rectificação, e eu, fiz-lhe a vontade ... coitadito!

1 comentário:

Paulino disse...

Durante bastante tempo depois de termos acabado o curso, eu e um amigo meu tratávamo-nos sempre por "sotôr". "Ó sotôr, então como vai?" Era tão ridículo pensar que tínhamos o estatuto de doutores, que se tornva cómico. E às vezes ainda o fazemos (claro que não se pode repetir uma piada constantemente.)